9.10.05

Feriado de si mesma


Universitária.
Dezoito anos de páginas viradas, de invernos, carnavais.
Pai. Mãe. Irmão. Noivo. Contas pagas em dia.
Protagonista de um romance que caminhara rumo ao altar. Uma
janela.

Uma vida perdida nas náuseas do mundo.



Ela acordou com o frenar de automóveis que reverberava quarto a dentro. Invadindo ouvidos. Sonhos. Era dia de tirar feriado de si mesma. Subiu ao parapeito da janela. Do alto os carros riscavam sua retina. E no céu, o sol, a chuva. No emaranhar de maquinarias ambulantes, inalava fumaça. Pessoas passavam. O vai e vem de uma gente, que assim como ela, não sabia onde iria. Fluxo. Refluxo.
Daquela janela, por dezoito anos ela viu o sol, assim como a sua vida, se pôr em cores.
Fumaça.
As pessoas, diariamente, filtravam-se pela sua janela, formando desenhos no tapete oriental. Doze andares. Quarenta metros.
Mais uma vida lançada vida a fora. Ela jazia em queda livre.
De costas, covarde em busca do descanço, amor eterno.
Desprendendo-se de todos os temores.

Cravando com as próprias mãos uma interrogação na sua história...